domingo, 31 de maio de 2015

O Momento Literário HJ



João do Rio, para quem não sabe, foi um dos maiores escritores de sua época [1881-1921] e inexplicavelmente esquecido atualmente. Jornalista, contista, teatrólogo, tradutor [especialmente de Oscar Wilde] e, principalmente, cronista. Convém lembrar que ele fazia parte de várias minorias excluídas: negro, pobre, homossexual, obeso. E que isso milagrosamente não impediu que fizesse muito sucesso, enquanto estava vivo.

Após falecer, o mercado editorial o esqueceu, não fizeram publicações póstumas e sua obra foi praticamente extinta, até que, na década de 80, encontraram, na antiga casa de sua mãe, sua obra escondida. Recuperada e documentada, voltou ao meio editorial, embora sem a força de antes.

Esse começo foi uma breve introdução sobre esse escritor, que tinha muita consciência do poder e do encanto da literatura e que contribuiu muito, com o seu conhecimento jornalístico e documental, para o amadurecimento da literatura brasileira.

Uma de suas obras menos conhecidas se chama ‘O Momento Literário’, que é uma coletânea de entrevistas com os maiores escritores de sua época: Olavo Bilac, Inglês de Souza, Clóvis Beviláqua, Sílvio Romero, Coelho Neto, João Luso, entre vários outros.

Foram as mesmas 5 perguntas para todos os entrevistados:
1. Para sua formação literária, quais os autores que mais contribuíram?
2. Das suas obras, qual a que prefere? Especificando mais ainda: quais, dentre os seus trabalhos, as cenas ou capítulos, quais os contos, quais as poesias que prefere?
3. Lembrando separadamente a prosa e a poesia contemporânea, parece-lhe que no momento atual, no Brasil, atravessamos um período estacionário? Há novas escolas (romance social, poesia de ação etc.) ou há a luta entre antigas e modernas? Neste último caso, quais são elas? Quais os escritores contemporâneos que as representam? Quais a que julga destinada a predominar?
4. O desenvolvimento dos centros-literários dos Estados tenderá a criar literaturas à parte?
5. O jornalismo, especialmente no Brasil, é um fator bom ou mau para a arte literária?

Já as respostas, foram as mais variadas – e valiosas – possíveis! Eis alguns trechos:
“Ama a tua arte sobre todas as coisas e tem a coragem que eu não tive, de morrer de fome para não prostituir o teu talento.” Olavo Bilac
“Tenho a respeito da palavra uma teoria: a palavra falada é a palavra viva, livre, solta de todas as cadeias, capaz de por si só definir, pintar, colorir; a palavra escrita é a palavra agrilhoada, morta, sem a expressão imediata. A primeira tem a intenção que é tudo e a inflexão que é a realidade de intenção. Toma, por exemplo, a palavra ‘Deus’. Deus tem uma cor no juramento solene, outra no auge do pavor, outra na ironia, tem todas as cambiantes do sentimento, graças à inflexão e, às vezes, apesar de sagrada, falta-lhe moralidade, como quanto uma rapariga, comida de beijos pelo amante, murmura trêmula – Meu Deus!” Coelho Neto
“A este quesito só podem responder bem os que se entregam a crítica literária, cousa de que Deus me defenda.” Inglês de Souza
Só para citar algumas das belezuras ditas no livro.

Cabe aqui um orgulhinho cearense, ao saber que muitos deles citam elogiosamente a Padaria Espiritual.

Então, na intenção de levantar discussões relevantes para a literatura, e não deixar essa obra se perder, o Vem-Vértebras tomará a liberdade de continuar esse legado em uma série de postagens sob o título 'O Momento Literário HJ', entrevistando escritores, com perguntas adaptadas para o nosso mundo atual:
1. Quais os autores que mais contribuíram para sua formação literária?
2. Das suas obras, qual a que prefere? E desta obra, qual conto, poema, trecho ou capítulo prefere?
3. Como você vê o cenário literário no Brasil? Há novas escolas? Quais escritores representam a atual literatura?
4. Há literaturas regionais ou uma única literatura brasileira?
5. A internet, especialmente no Brasil, é um fator bom ou mau para a arte literária?

Em breve, teremos as primeiras respostas aqui nesse site.

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