terça-feira, 9 de junho de 2015

O Momento Literário HJ - Pedro Salgueiro

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Nosso primeiro entrevistado é Pedro Salgueiro, um dos maiores escritores cearenses em atividade.

1. Quais os autores que mais contribuíram para sua formação literária?
Resposta: Diversos e tão variados que ficaria difícil enumerá-los, desde a adolescência com os poetas ditos ‘marginais’ (deles me ficou um gosto pelos escritos de Francisco Alvim), um pouco depois me apaixonei pela geração do ‘Romance de 30’ (dessa paixão me restou Graciliano Ramos e sua secura), em seguida veio uma febre pelo chamado ‘Realismo Mágico’, então me embriaguei com Vargas Lhosa, Garcia Marquez, Júlio Cortázar, Juan Rulfo etc. etc. (deles todos me restaram o amor por Juan Carlos Onetti, Juan Jose Saer, Cabreira Infante e pouquíssimos mais), mas já tive a fase dos americanos (Salinger, Faulkner, Truman Capote pra citar alguns), ingleses, os russos (Tchekhov e Gogol, principalmente); dos brasileiros, então, desde José de Alencar, Machado de Assis, José J. Veiga, Moreira Campos, até mesmo os colegas de geração, como Ronaldo Correia de Brito, Tércia Montenegro, Dimas Carvalho, dentre vários outros, muito me influenciaram – de todos esses escritores citado e outros mais esquecidos recebi com certeza influências, muitas vezes sequer percebidas, um toque de humor ou de pessimismo, uma conjugação verbal enviesada, certo laconismo; mas desconfio mesmo que as maiores influências literárias tenham vindo dos autores de livrinhos de caubói, que meu avô, o bodegueiro Chico Inácio, me emprestava quando eu era ainda quase criança, vivia entretido com eles, pois me despertaram primeiramente o vício pelo que estava lendo, sem a obrigação da escola; isso tudo junto com as centenas de revistinhas em quadrinho que minha geração vivia agarrada.

2. Das suas obras, qual a que prefere? E desta obra, qual conto, poema, trecho ou capítulo prefere? Resposta: Sempre preferi o livro de outros autores, tenho certo pudor em comentar ou mesmo ler críticas sobre livros ou contos meus, mas citaria o meio-romance, meio livro de contos, ‘Inimigos’, por ser o mais autobiográfico, talvez o que tenha vindo mais de ‘dentro’; também não tenho preferência por contos ou trechos, pois raramente leio o que escrevi, passo tanto tempo trabalhando, limando, enxugando, que depois quase fico esgotado daquele prato já tão remexido.

3. Como você vê o cenário literário no Brasil? Há novas escolas? Quais escritores representam a atual literatura? Resposta: Vejo um cenário bastante promissor, com vários autores com talentos já comprovados, outros em formação, mas acho que somente com uma distância temporal saberemos quem realmente vai sobreviver, quem é somente fogo de palha. Nem sempre quem está na boleia desse imenso caminhão da literatura será quem sobreviverá ao tempo, o passado tem nos mostrado isso fartamente. Não vejo uma formação homogênea de uma escola literária, há, sim, tendências, escritores urbanos com predominância nítida sobre os, digamos, rurais. Ultimamente muitos estão ambientando seus escritos em outros países, talvez mais por necessidade do mercado livreiro, talvez por meras influências editoriais, que estejam buscando autores para vender a editoras de fora, também percebo que o romance tem sobressaído sobre os demais gêneros, com uma quase exclusividade que beira à irracionalidade.

4. Há literaturas regionais ou uma única literatura brasileira? Resposta: O termo ‘regional’ tem sido usado de forma preconceituosa, mais para designar uma literatura rural produzida em determinadas regiões, como Nordeste, Sul ou Centro-Oeste, dificilmente quem usa o termo se refere a, por exemplo, uma literatura que explore favelas do Rio ou São Paulo. Temos traços comuns e específicos em cada região brasileira, mas com uma perigosa tendência à uniformização, acredito que devido ao uso massificado da internet (dos meios de comunicação de modo geral); característica que acho lamentável, pois as diferenças deveriam ser incentivadas, cultuadas até, para o bem da democracia.

5. A internet, especialmente no Brasil, é um fator bom ou mau para a arte literária? Resposta: Acho muito cedo para se chegar a conclusões, se é que algum dia chegaremos a elas. Acredito que em diversos aspectos houve uma melhora, como na circulação mais democrática de textos, como o acesso mais fácil de obras desconhecidas; hoje se conhece os autores mais distante geograficamente com apenas alguns minutos de pesquisa na internet; mas por sua vez isso por si só não garante uma melhora de qualidade da arte literária; há problemas que vieram junto com o excesso de textos, certa superficialidade, mais informações horizontais, menos profundidade. Torço para que cada dia certo lixo que veio junto com a internet seja afastado (ou diminuído) e que essa ferramenta, esse meio, se torne (como já o é) fundamental para o crescimento dos escritores.

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